A pedido de muitas famílias, venho hoje falar-vos de destino. O dicionário reporta-nos para fatalidade, sina, sorte, fim, aplicação a que se destina alguma coisa, direcção, rumo.
Fatalidade parece-me reforçar a ideia de que é algo que não controlamos, que está pré-definido ainda antes de nascermos, inevitável, imutável. Gosto muito daquela frase do "Eu faço o meu próprio destino!" que aparece tantas vezes nos filmes em momentos super dramáticos, por isso não gosto muito desta.
Sina lembra-me sempre senhoras ciganas com lenços na cabeça a lerem-nos a sina, com cartas e essas coisas (recordaçõess de Peniche) e parece-me ser menos "poderoso". Ao passo que a fatalidade é algo a que não podemos escapar, a sina parece-me ser mais do género alguém escreve em milhares de envelopes inúmeros possíveis futuros para nós, mistura todos os envelopes numa tômbola (recordaçõess Serranas) e sorteia um. Daí que a sorte também se possa englobar nesta definição.
O fim percebo perfeitamente. Tudo o que existe tem um fim, uma finalidade, um objectivo, uma essência instrumental que nos permite usar as coisas e derivar delas algum usufruto. As canetas permitem escrever, os olhos ver, a Estatística não serve para nada, e os clips para coçar o nariz até espirrar. Aqui entra também a aplicação a que se destina alguma coisa.
A direcção ou rumo também percebo. Quando saímos de casa, temos normalmente um local que queremos atingir e seguimos um determinado caminho para lá chegar. Cristal clear.
Todavia, por mais que busque no dicionário, não encontro o que quero - não encontro o fado. Essa grande mística cantada por Camões em poemas e pela Amália em noites Lisboetas (na verdade só me interessa o do Camões, mas fica aqui a devida homenagem a uma grande senhora). Essa ideia de que tudo é destino faz-me confusão. Para os mais religiosos, o destino torna-se muita vez a vontade de Deus. Sempre ouvi dizer "Foi porque Deus quis!" ou "Agente morre é quando Deus quiser!". Ora, se eu for ali à janela e me atirar lá para fora, posso sobreviver, ou não, havendo até uma pequena hipótese prevista pela Física de atravessar o chão em vez de me estatelar nele. Devaneios à parte, o que é certo é que eu não me atiro...
No outro dia vi na televisão a história de um toxicodependente que chegou a um ponto tal em que se atirou do topo de um andaime para ver o faria a seguir. A ideia era que se morresse, acabavam-se os problemas, senão, era porque Deus tinha destinado para ele um outro fim. O senhor sobreviveu e hoje está completamente restabelecido, não só da toxicodependência como da queda, tendo uma vida perfeitamente "normal". Não sei se foi ou não, mas o que é certo é que aquele homem mudou a sua vida por acreditar que era o seu destino...
Se formos extremosos, não nos preocupávamos com nada, nem fazíamos nenhum, pois o destino encarregar-se-ia de nos dar um rumo. É claro que nesse caso o nosso destino seria provavelmente sermos todos uns grandes labregos e isso nunca acontecerá, porque todos sabemos que o destino pode sempre levar uma mãozinha.
Em jeito de conclusão, destino ou não, se não passarmos da fase de grupos o Scolari será indubitavelmente difamado com veemência acentuada, e aí ninguém se lembrará que não era o destino de Portugal ser Campeão Mundial; se faltar agora a luz, eu não vou encarar isso como um sinal de que este post não tem como destino ser publicado; e se a próxima vez que for levar a China a casa estiver lá o senhor a levantar dinheiro, gostarei muito de pensar que era o nosso destino falar da vida e fazer pactos.