terça-feira, junho 27, 2006

Michelle

Sinto-me estranho. Estou melancólico como é habitual nestas alturas, mas desta vez a introspecção que me assola é mais densa...
Hoje senti uma coisa que estava inerte há anos e percebi. Percebi o porquê dessa inércia me pôr sempre um sorrisinho nos lábios, fazendo sentir a sua presença esporadicamente. Percebi o porquê de ela existir e percebi que ela não era bem o que eu esperava.
Só alguém deveras iluminado para me fazer ver o mundo de maneira diferente e repensar coisas que julgava há muito encerradas. (Odeio-te!)
No meio disto tudo percebi porque é que me bateu tão forte. Tive medo de nunca mais sentir aquele quentinho quando me deito no sofá e pouso um braço sobre o peito. Tive medo de nunca mais sentir aqule macio de cama feita com lençóis lavados e banhinho tomado. No fundo, tive medo de nunca mais ver aquele azul mais bonito que tu trazes, ao qual me habituei nos últimos tempos.
Falta-me uma conclusão, mas não a escrevo. A história ainda não acabou e sei que continuará no ecrã de cinema que é o tecto do meu quarto.
Não te cuspo em cima, mas já levas uns belos gafanhotos...

quarta-feira, junho 21, 2006

Há momentos em que apetece dizer algo, mas não dizemos. Não sei porque não digo talvez sinta que isso nem faz assim tanta diferença. Palavras sentidas às vezes não fazem diferença se são ditas se não, afinal de que valem palavras quando quem as escuta não as ouve verdadeiramente? Que mal tem se eu não as disser?

alguém me ouve? está aí alguém?

talvez esteja talvez não esteja,talvez oiçam, talvez compreendam o que afinal eu julgava incompreensivel.
talvez um dia quando menos esperares eu já não esteja aqui...

"some day you'll look, to see I've gone, but tomorrow may rain so I'll follow the sun.." John Lennon e Paul MacCartney

segunda-feira, junho 12, 2006

“You know you can always count on me… for good times and bad times I’ll be by your side forever… that’s what friends are for…”

Agora queria estar ao teu lado
Queria poder dizer o quão gosto de ti, o quão gostamos de ti, que sentimos a tua falta
Dizer-te que sem ti há gargalhadas que não acontecem, que há coisas que não têm piada
Não quero estar aqui sentado e saber que a única coisa que posso fazer é escrever algo que só poderás ler quando voltares para casa
Não gosto de saber que agora que precisas de mim, de nós, e ninguém pode estar ao teu lado
E um (muito) amigo teu telefonou-me a contar a “novidade” e quando perguntei porque é que ele me estava a contar, obtive um “É para desabafar”
E odiamos não puder pegar no carro e ir abraçar-te, fazer-te cócegas, dizer que tudo vai acabar bem e depressa, aquela carícia no cabelo
E agora lembro-me dos mails em que dizem para lembrarmos aos nossos amigos que gostamos deles, sempre com história muito comoventes
Não é nada que não saibamos, que temos amigos que gostam muito de nós
Mas é tão melhor quando nos dizem…
Gosto de ti!

domingo, junho 11, 2006

Destino

A pedido de muitas famílias, venho hoje falar-vos de destino. O dicionário reporta-nos para fatalidade, sina, sorte, fim, aplicação a que se destina alguma coisa, direcção, rumo.
Fatalidade parece-me reforçar a ideia de que é algo que não controlamos, que está pré-definido ainda antes de nascermos, inevitável, imutável. Gosto muito daquela frase do "Eu faço o meu próprio destino!" que aparece tantas vezes nos filmes em momentos super dramáticos, por isso não gosto muito desta.
Sina lembra-me sempre senhoras ciganas com lenços na cabeça a lerem-nos a sina, com cartas e essas coisas (recordaçõess de Peniche) e parece-me ser menos "poderoso". Ao passo que a fatalidade é algo a que não podemos escapar, a sina parece-me ser mais do género alguém escreve em milhares de envelopes inúmeros possíveis futuros para nós, mistura todos os envelopes numa tômbola (recordaçõess Serranas) e sorteia um. Daí que a sorte também se possa englobar nesta definição.
O fim percebo perfeitamente. Tudo o que existe tem um fim, uma finalidade, um objectivo, uma essência instrumental que nos permite usar as coisas e derivar delas algum usufruto. As canetas permitem escrever, os olhos ver, a Estatística não serve para nada, e os clips para coçar o nariz até espirrar. Aqui entra também a aplicação a que se destina alguma coisa.
A direcção ou rumo também percebo. Quando saímos de casa, temos normalmente um local que queremos atingir e seguimos um determinado caminho para lá chegar. Cristal clear.
Todavia, por mais que busque no dicionário, não encontro o que quero - não encontro o fado. Essa grande mística cantada por Camões em poemas e pela Amália em noites Lisboetas (na verdade só me interessa o do Camões, mas fica aqui a devida homenagem a uma grande senhora). Essa ideia de que tudo é destino faz-me confusão. Para os mais religiosos, o destino torna-se muita vez a vontade de Deus. Sempre ouvi dizer "Foi porque Deus quis!" ou "Agente morre é quando Deus quiser!". Ora, se eu for ali à janela e me atirar lá para fora, posso sobreviver, ou não, havendo até uma pequena hipótese prevista pela Física de atravessar o chão em vez de me estatelar nele. Devaneios à parte, o que é certo é que eu não me atiro...
No outro dia vi na televisão a história de um toxicodependente que chegou a um ponto tal em que se atirou do topo de um andaime para ver o faria a seguir. A ideia era que se morresse, acabavam-se os problemas, senão, era porque Deus tinha destinado para ele um outro fim. O senhor sobreviveu e hoje está completamente restabelecido, não só da toxicodependência como da queda, tendo uma vida perfeitamente "normal". Não sei se foi ou não, mas o que é certo é que aquele homem mudou a sua vida por acreditar que era o seu destino...
Se formos extremosos, não nos preocupávamos com nada, nem fazíamos nenhum, pois o destino encarregar-se-ia de nos dar um rumo. É claro que nesse caso o nosso destino seria provavelmente sermos todos uns grandes labregos e isso nunca acontecerá, porque todos sabemos que o destino pode sempre levar uma mãozinha.
Em jeito de conclusão, destino ou não, se não passarmos da fase de grupos o Scolari será indubitavelmente difamado com veemência acentuada, e aí ninguém se lembrará que não era o destino de Portugal ser Campeão Mundial; se faltar agora a luz, eu não vou encarar isso como um sinal de que este post não tem como destino ser publicado; e se a próxima vez que for levar a China a casa estiver lá o senhor a levantar dinheiro, gostarei muito de pensar que era o nosso destino falar da vida e fazer pactos.

quarta-feira, junho 07, 2006

Coisas da vida

Não sei bem se é destino, karma, ou qualquer uma dessas coisas, mas gosto de pensar que o que fazemos se repercute em nós no futuro. A experiência diz-me que isso é verdade e é exactamente por isso que raramente penso no futuro. O que fizermos hoje, é instrumental para o nosso futuro, por isso basta-me viver o hoje, o agora e o futuro determina-se a ele próprio através das minhas acções.
É claro que penso no futuro, mas penso sempre no que posso fazer agora para influenciar o futuro. Quando estou bem, é bom; quando estou mal gosto de curtir a neura até ao fim. Assim dou mais valor aos momentos bons, como este, em que escrevo, e penso no que todos vocês pensarão quando lerem isto.
A vida tem certos padrões, ciclos, que nos dão uma certa segurança em relação ao que acontecerá no futuro próximo. Quando há eleições, sei que vão construir parques para as avós passearem com os netos; quando há competições internacionais de futebol, sei que todos se tornam instantaneamente patriotas; quando como algo que já provei antes, tenho uma óptima previsão sobre o seu sabor, e é bom descobrir que estava certo, tal como também é bom sentir um sabor diferente e perguntar à minha mãe o que é que ela pôs de novo na comida (nesta altura, alguém se deve sentir homenageado).
São estas pequenas coisas em que penso diariamente, quando não está mais ninguém comigo, pelo menos não fisicamente. São estas pequenas coisas que me fazem pensar que o mundo vale a pena ser vivido.
Gosto de ver como as pessoas são diferentes. Gosto de ver um artigo que acho completamente horrível e deprimente, e saber que o Alves vai adorar lê-lo, assim como escreverá pelo menos dois posts sobre ele, separados por um ou dois dias, um a continuar o outro, que despoletarão uma enorme polémica e conversa cultural de alto calibre.
Gosto de ir na rua e pontapear uma tampa de iogurte líquido e saber que provavelmente o Jota teria uma fantástica utilização para ela nos escuteiros, inteligente, simples e rentável.
Gosto de me picar em alfinetes, de irritar a minha mãe, de mexer no cabelo das minhas manas, de recordar com saudosismo o grande 12º13, de me lembrar como a professora de História agoirava que um dia eu iria crescer e deixar de ser parvo, e esse dia ainda não ter chegado.
Gosto de começar a escrever com uma ideia, mas perder-me a meio do texto e divagar (é por isso que só dou títulos no fim).
Gosto de olhar o mundo da minha varanda e cagar sentenças sobre tudo e todos como se fosse o maior e imaginar que realmente tenho razão.
Quanto ao futuro, não faço ideia, mas será sem dúvida interessante descobrir o que acontecerá.