quarta-feira, novembro 08, 2006

Físico - especial versus banal

Não é costume, mas hoje sinto dificuldade em passar para palavras o que penso. As coisas não me saem fluídas e de uma forma abstracta, poderemos pensar que é exactamente pela temática que me perturba: as acções. Costuma dizer-se que falam mais alto do que as palavras, e por isso mesmo, penso que não será escrevendo que validarei o meu ponto de vista: primeiro, porque não sei bem qual ele é; segundo, porque desconfio que não é o mais correcto.
Para que o leitor perceba minimamente do que falo, falo da necessidade de contacto físico. Uns têm mais, outros menos, mas ela existe. A questão principal é que ao termos gestos físicos para com outros regularmente, banalizamo-los. Quando, naquelas ocasiões específicas quisermos sinalizar aos outros que aquele momento é especial, diferente, teremos mais dificuldade em fazê-lo. Por mais que argumente que ao praticar-mo-los regularmente já mostramos aos outros que são diferentes, não consigo deixar de pensar que o primeiro ponto de vista tem muito que se lhe diga. Isto porque tenho regularmente gestos físicos para com pessoas que não me sendo indiferentes, não são daqueles que levava comigo para o deserto do Arizona, que é como quem diz, não são as mais especiais.
O problema fundamental é que não sei bem porque o faço, e na minha busca incessante pela razão de tudo (alguns dirão que penso demais) incomoda-me não conseguir justificar as minhas próprias acções.
Quando a teoria é defendida por pessoas cuja opinião valorizo muito, o problema torna-se ainda mais gravoso, pois se é certo que nenhum tem que ter necessariamente razão, o facto dos melhores argumentos não serem os meus incomoda-me.
No fundo, ao não conseguir racionalizar o porquê das minhas acções, penso se será correcto o meu ponto de vista. Como se costuma dizer: "se não os podes vencer, junta-te a eles!"
Quem me faz pensar nisto, questionar as minhas próprias ideias, é sem dúvida especial e gostaria um dia, num momento de perfeita harmonia e plenitude mostrar-lho, fazendo com que o físico evidenciasse o quão importante é o psicológico (que é como quem diz: "Odeio-te!").

Se eu tivesse tempo...

Se eu tivesse tempo, dir-vos-ia o que me vai pela alma.
Se eu tivesse tempo, talvez falasse sobre o que me entristece há mais de um mês.
Se eu tivesse tempo, talvez me queixasse de como os trabalhos de grupo monopolizam a minha vida.
Se eu tivesse tempo, dir-vos-ia porque finjo.
Se eu tivesse tempo, queixar-me-ia dos amigos que não vejo, do desporto que não faço, da matéria que não estudo, do sono que não durmo, da diversão que não tenho.
Se eu tivesse tempo, explicar-vos-ia porque é já não me apetece rir.
Se eu tivesse tempo, falar-vos-ia de como estou a conhecer melhor certas pessoas.
Se eu tivesse tempo, falava-vos das pessoas maravilhosas que vou descobrindo aos poucos.
Se eu tivesse tempo, falar-vos-ia de como me sinto posto de lado por alguém que me diz muito.
Se eu tivesse tempo, talvez vos falasse das conversas com esse alguém que me deixam esperançoso que a tristeza acabe.
Se eu tivesse tempo, falava das fotografias para as quais me custa olhar e das que saíram do sítio.
Se eu tivesse tempo, queixava-me da chuva.
Se eu tivesse tempo, dir-vos-ia como, pouco a pouco, estou a ficar mais sozinho, nas aulas, nos passeios, na natação.
Se eu tivesse tempo, talvez vos falasse das festinhas no cabelo, dos encostos de cabeça e dos amarelos também.
Se eu tivesse tempo, talvez o perdesse com os amigos de sempre.
Se eu tivesse tempo, explicar-vos ia como há pequenos nadas que são tão grandes.
Se eu tivesse tempo, talvez me debatesse sobre como um gesto dos outros pode causar um furacão em nós.
Se eu tivesse tempo, dir-vos-ia o quão me entristece olhar para trás e perceber o quão já fui feliz.
Se eu tivesse tempo, falar-vos-ia das lágrimas que não caíram.
Se eu tivesse tempo, talvez procurasse pelo Jota.

Ele anda por aí, não sei onde, mas sei que anda. Ele teria tempo. Eu não tenho…