Hoje alguém me alertou para a diferença entre paixão e amor. Utiliza-se correntemente a palavra amor para classificar algo que é muito forte, uma sensação poderosa, tipo super moca. No entanto, o amor não será bem isso, embora eu ache que esteja relacionado. Ainda ontem, enquanto caminhava para casa, numa das minhas habituais fantasias, vi alguém que disse uma coisa que me bateu tão forte, que fiquei nervoso, a pulsação acelerou, as palmas da mão ficaram suadas, a respiração ofegante, por uns momentos não consegui dizer nada. Foi uma coisa tão forte do ponto de vista psicológico, que despoletou emoções, que se manifestaram fisicamente. Ora aí está o maior cagaço que a natureza nos pode proporcionar - mais saudável que a droga, mais barato que o bungee-jumping e com muito mais adrenalina. O que é que isso tem a ver com amor? Encontrar alguém que captura a nossa essência em poucas palavras mete medo, não um medo de pavor, mas um medo de inquietude, um medo de quem chegou ao final da demanda eterna pelo significado da vida, do amor.
A vida é para se viver. Às vezes complicamo-la e é por isso que tem piada. Quando encontramos alguém por quem nos apaixonamos, mas que depois de amenizada a paixão continuamos apanhadinhos, temos aí o nosso amor. Nessa altura queremos fazer essa pessoa feliz, queremos fazê-la sentir o mesmo que nós, queremos gritar para dentro dela tudo o que não conseguimos verbalizar. Por essa pessoa tu sacrificavas-te, poque tu próprio o disseste, custa mais o sofrimento garantido do que o desconhecido, e tu preferirias sacrificar-te por ela do que ficar cá sem ela. Por muito que vos possa custar, eu vejo egoísmo nisto, tal como vejo em não nos sacrificarmos. Quem quiser desenvolver o assunto tem aqui um blog à sua disposição.
Continuando no mesmo tema, mas com uma abordagem diferente, sexo e "amor são saudáveis de certeza, medo da solidão às vezes engana. Estar sozinho é às vezes mau, mas necessário. Ubi homo, ibi societas - concordo. Usando um pouco de latim macarrónico ubi homo, ibi pensamentus e quando pensamos, estamos sozinhos. Quando pensamos, temos muitas coisas connosco, mas estamos sozinhos, e sem essa dose de solidão ninguém se safa. Quando te entregas ao medo e estás com alguém para não estar sem ninguém, não vejo onde está o amor, nem sequer a saúde.
Encontrar alguém que me complete parece-me uma boa ideia, e já agora que me complete com os seus defeitos também. Afinal de que servem as minhas qualidades senão para conter os defeitos dela, e as dela para conter os meus?
Quando for velhote serei sapiente! Consigo ver a piada no "Só sei que nada sei", mas também vejo a piada no "Ver para crer" ou melhor ainda, no "Sentir para crer". A visão é um sentido, e são eles que me transmitem sensações. No entanto, um cego pode não ver, mas sente, e mesmo não vendo, caminha nas ruas como qualquer um. Porquê? Porque sabe como fazê-lo.
Mensurar sentimentos é à primeira vista difícil, mas se calhar até não. Se pensares microeconomicamente, é como as preferências: não interessa o valor de cada curva de utilidade, interessa a ordem. Os sentimentos não têm aplicação literária perfeita, por isso não sei quanto valem, mas se uma imagem vale por 1000 palavras, um sentimento vale de certeza mais. Quanto não sei, mas isto não é cardinal, é apenas ordinal.