domingo, junho 11, 2006

Destino

A pedido de muitas famílias, venho hoje falar-vos de destino. O dicionário reporta-nos para fatalidade, sina, sorte, fim, aplicação a que se destina alguma coisa, direcção, rumo.
Fatalidade parece-me reforçar a ideia de que é algo que não controlamos, que está pré-definido ainda antes de nascermos, inevitável, imutável. Gosto muito daquela frase do "Eu faço o meu próprio destino!" que aparece tantas vezes nos filmes em momentos super dramáticos, por isso não gosto muito desta.
Sina lembra-me sempre senhoras ciganas com lenços na cabeça a lerem-nos a sina, com cartas e essas coisas (recordaçõess de Peniche) e parece-me ser menos "poderoso". Ao passo que a fatalidade é algo a que não podemos escapar, a sina parece-me ser mais do género alguém escreve em milhares de envelopes inúmeros possíveis futuros para nós, mistura todos os envelopes numa tômbola (recordaçõess Serranas) e sorteia um. Daí que a sorte também se possa englobar nesta definição.
O fim percebo perfeitamente. Tudo o que existe tem um fim, uma finalidade, um objectivo, uma essência instrumental que nos permite usar as coisas e derivar delas algum usufruto. As canetas permitem escrever, os olhos ver, a Estatística não serve para nada, e os clips para coçar o nariz até espirrar. Aqui entra também a aplicação a que se destina alguma coisa.
A direcção ou rumo também percebo. Quando saímos de casa, temos normalmente um local que queremos atingir e seguimos um determinado caminho para lá chegar. Cristal clear.
Todavia, por mais que busque no dicionário, não encontro o que quero - não encontro o fado. Essa grande mística cantada por Camões em poemas e pela Amália em noites Lisboetas (na verdade só me interessa o do Camões, mas fica aqui a devida homenagem a uma grande senhora). Essa ideia de que tudo é destino faz-me confusão. Para os mais religiosos, o destino torna-se muita vez a vontade de Deus. Sempre ouvi dizer "Foi porque Deus quis!" ou "Agente morre é quando Deus quiser!". Ora, se eu for ali à janela e me atirar lá para fora, posso sobreviver, ou não, havendo até uma pequena hipótese prevista pela Física de atravessar o chão em vez de me estatelar nele. Devaneios à parte, o que é certo é que eu não me atiro...
No outro dia vi na televisão a história de um toxicodependente que chegou a um ponto tal em que se atirou do topo de um andaime para ver o faria a seguir. A ideia era que se morresse, acabavam-se os problemas, senão, era porque Deus tinha destinado para ele um outro fim. O senhor sobreviveu e hoje está completamente restabelecido, não só da toxicodependência como da queda, tendo uma vida perfeitamente "normal". Não sei se foi ou não, mas o que é certo é que aquele homem mudou a sua vida por acreditar que era o seu destino...
Se formos extremosos, não nos preocupávamos com nada, nem fazíamos nenhum, pois o destino encarregar-se-ia de nos dar um rumo. É claro que nesse caso o nosso destino seria provavelmente sermos todos uns grandes labregos e isso nunca acontecerá, porque todos sabemos que o destino pode sempre levar uma mãozinha.
Em jeito de conclusão, destino ou não, se não passarmos da fase de grupos o Scolari será indubitavelmente difamado com veemência acentuada, e aí ninguém se lembrará que não era o destino de Portugal ser Campeão Mundial; se faltar agora a luz, eu não vou encarar isso como um sinal de que este post não tem como destino ser publicado; e se a próxima vez que for levar a China a casa estiver lá o senhor a levantar dinheiro, gostarei muito de pensar que era o nosso destino falar da vida e fazer pactos.

3 comentários:

Tigas disse...

Contrapõe Henrique! Retalia, pois feedback é o que se quer.

hcg disse...

Lol! Ouvi uma vez dizer que quem escreve o destino somos nós mas que já o escrevemos antes de termos nascido. Que quando nascemos esquecemos tudo e a partir daí vamos voltar a recordar aos poucos e poucos e aprender algo de novo, se tivermos sorte.
Antes de nascermos escolhemos a familia e vemos o que nos reserva o futuro. Nem sempre o que precisamos é uma vida boa mas sim o necessário para se continuar a aprender. Para além disso, mandamos pistas ao longo da vida que aí vem (os famosos dejá vu) para que nos orientem para o caminho certo. Daí a sorte ser necessária, pois é preciso que estejamos com muita atenção para não deixarmos escapar as oportunidades que reservámos a nós próprios (será que aqui entram os sonhos?). Podemos fugir ao destino mas aí estamos a fugir de nós próprios.
Não sei se concordo com tudo isto, mas dá que pensar. O que mais me incomoda é não saber quando é que o jogo acaba. Posso até compreender o propósito mas não consigo ver o fim por detrás de todos os destinos (é compreensivel que isto seja muito confuso; eu depois "empresto-te" o livro).

Colombianita disse...

Eu so tenho uma coisa a dizer. Ha coisas que nao controlamos nesta vida...(dps da conversa k tivemos hj tiago, tu percebes o k kero dizer). E esas coisas acontecem e mudam a nossa vida. Nao sou eu k as provoco, nao sou eu k as faco..simplesmente acontecem...e entre coisa e coisa, a vida vai passando.
Vou dar-vos um exemplo: k eu me lembre, ja tive mais ou menos em 4 ou 5 situacoes k se chamariam perigosas onde a minha vida podia mt bem ter acabado...mas ainda ca estou. isto sem falar nas probabilidades diarias de morrer se sair de casa e tal.
E esas ditas situacoes foram coisas que eu nao podia controlar de nenhuma maneira. Nao aconteceram pk eu as tivesse provocado.
Acho k o destino sao essas pekenas situacoes que mudam td e k fogem do nosso controle. Vindo de um pais onde o destino de certas pessoas e trassado pelas conveniencias ou ganancias dos outros, o destino se torna uma coisa extranha. Na e escrito por ninguem antes de tu nasceres, mas tb nao es tu kem o fazes...simplesmente esta la, presente a todas horas, um paso a frente de nos, mostrando-nos o caminho mas sem sinalizar nada nem avisar, sentimo-lo sem poder ve-lo, e entrelasa-se com outros destinos, mudando tudo a sua volto...
as vezes gosto de comparar as coisas que nao percebo com a nocao que tinha de pekenina do vento: sabia que existia, estava la, eu sentia-o, mas nao podia ve-lo. Nao sabia de donde vinha nem pra onde ia. Tb nao sabia pk estava aqui nem pra k servia. Mas o facto e k estava aqui.....
Ps: este comment foi feito dps de um largo dia de estudo intenssivo de macro e contabilidade, por isso se nao percebem nada e normal