quarta-feira, agosto 02, 2006

Raptos

A sociedade é formada por indivíduos, todos diferentes, ligados por uma necessidade de pertença a grupo, a uma comunidade. Esta traz várias vantagens já que os indivíduos, ao serem divididos por hierarquias e funções, sendo que o desempenhar de cada uma delas é essencial para o todo, permitem que o todo seja mais do que a soma das partes. Isto aplica-se a várias sociedades e não só à humana. Um zapping algo mais demorado pelo Discovery Channel, a Odisseia ou até mesmo os canais generalistas ao fim-de-semana (antes do jornal das 13) dá-vos vários exemplos disto patentes em muitas e diversas espécies do mundo animal. Não entrando por aí, seguiremos um caminho melhor delineado, analisando a sociedade animal racional.
O Homem é um animal social. Todos sentimos necessidade de conviver com os nossos pares, com os nossos semelhantes. Não só pelas mesmas razões que levam à formação dessas sociedades no mundo animal, mas principalmente porque o Homem é um animal social especial - é um animal social racional. A nossa sociedade nasce do contributo não só, mas também, intelectual de cada um dos seus indivíduos. Os seus valores, princípios, padrões comportamentais, vontades e objectivos acumulam-se num aglomerado heterogéneo e dinâmico chamado sociedade. No entanto, para que a vivência em sociedade seja exequível, muitos dos impulsos mais primitivos e bruscos dos indivíduos têm de cair. Não porque desapareçam, mas porque caem para um local mais profundo do nosso ser, permanecendo lá, atolhados debaixo de condutas e regras de boa educação que todos seguimos, uns mais, outros menos. Os animais irracionais agem de forma semelhante, mas os seus condicionalismos são mais fracos e têm origens não no raciocínio, mas no instinto e na avaliação que cada animal faz das suas capacidades e competências, em relação aos outros.
Enquanto andamos por cá, habitamos no meio de toda esta mescla social, tentanto usar o raciocínio para moldar as nossas acções e as emoções para justificar o processo de raciocinar, até que às vezes, somos raptados.
Levados para longe de tudo isto - para uma ilha deserta, para uma viagem de carro pelo deserto do Arizona, para um inter rail, para uma cadeira. Esses raptos permitem-nos sair momentaneamente da sociedade e criar tribos: pequenos grupos de pessoas com uma ideia que une todos, que é interpretada de diferente forma por todos, sem objectivos concretos. Nesta tribo-societal criam-se ligações, recordações, imagens, descobre-se e troca-se informação e depois acaba-se a tribo no sentido físico, perdurando em cada um dos membros da tribo algo que não os muda, mas que os faz evoluir, como se uma espécie de energia residual ficasse guardada algures para às vezes ser reutilizada.
Reintegrados na sociedade, não temos de todo uma visão mais clara dela, mas temos uma visão mais clara de nós, porque ouvimos coisas que não esperávamos e ouvimos coisas que já sabíamos explicadas de uma forma diferente.
Obrigado minha tribo, por me raptarem.

2 comentários:

hcg disse...

A nova visão que temos de nós próprios leva-nos a actuar de forma distinta. Certos rituais, jogos e cerimónias patentes na sociedade deixam de fazer sentido e já não desejamos seguir as mesmas regras. Poderão uns pensar que o fazemos para criticar a sociedade e que desejamos que esta mude. Não concordo. Acho que a razão é bem mais simples: somos diferentes, sentimo-nos diferentes, agimos de forma diferente.
Esqueceste é que não tens de agradecer a ninguém. É verdade que é um pequeno grupo com ideias semelhantes que te faz ver as coisas de forma diferente, que te afasta da sociedade para que te consigas descobrir a ti próprio. Mas tu fazes o mesmo pela tua tribo. Não foste raptado, vieste pelo teu próprio pé, só que não de forma racional.

Colombianita disse...

tanta coisa para agradecer..ai ai tigas..ja tas velho!!!!
um bjo mt mt grande pra ti!!
foste raptado pk mereces supresas boas e mt mais!!! es uma pessoa unica e mt especial :)