quarta-feira, agosto 16, 2006

O nascer de Albatroz

Subitamente, uma desconhecida agitação perturba o meu calmo descanso. Não conheço esta nova sensação, e apesar de não ser muito desagradável, incomoda-me. Irrompendo na minha vida rotineira, traz-me o azo da preocupação.
À medida que o tempo passa, a perturbação aumenta, não só à minha volta, mas em consequência disso mesmo, também dentro de mim. As paredes ao meu redor parecem quebráveis, e sinto que devo parti-las, ver o que está do outro lado, acabar com a claustrofobia que de repente se apoderou de mim. O desconhecimento da nova sensação é gradualmente esquecido, e substituído pelo medo e pânico que a revolução à minha volta provoca em mim...
Por esta altura, a adrenalina que me corre nas veias despertou todos os meus sentidos, e talvez por isso, quando após muitas tentativas, vejo uma brecha abrir-se na parede e a luz irrompe para dentro do meu mundo, ouço sons que nunca ouvi antes. É quase como se uma porta se tivesse aberto, trazendo para o meu pequeno mundo vestígios de um outro, paralelo ao meu, que lentamente se revela, cada vez mais forte, alargando e dilatando uma passagem, convidando-me para o visitar. Mas eu sinto-me bem no meu mundo, a sua simplicidade dá-me tudo o que necessito, e não tenho qualquer interesse em abandonar o meu lar, trocando-o por outro que desconheço em absoluto.
Impelido pelo instinto, saio lá para fora. Este novo mundo é estranho, enorme, não tem o conforto do meu anterior lar, e a minha primeira reacção é a de piar compulsivamente, pois tenho medo, fome, frio, não percebo nada. Então aparece alguém que me conforta, que me acaricia com o seu bico, que me aquece com a sua penugem, que regurgita para dentro de mim um quente e nutritivo pequeno-almoço e sinto-me bem, confiante no que o futuro me reserva...
A 15 de Agosto de 1986, tornei-me Albatroz.

2 comentários:

Tigas disse...

Queria-lo, aqui o tens. Parabéns Rubém.

Jtcs disse...
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