sábado, abril 22, 2006

Subir o nível

Como seria aborrecido o mundo se tudo corresse como queremos. Quão desprovido de emoções seria um lugar onde todos se compreendem perfeitamente, onde tudo é claro, onde existe comunicação perfeita. Seria com certeza um mundo melhor em muitos aspectos, mas a mim, quem me tira as pequenas altercações que vão surgindo com diferentes pessoas, que nos irritam, amofinam, tira-me tudo.
Parte da piada da vida está no eterno dilema entre o que nos parece, e o que é realmente. Quando ambos os membros se intersectam, as pessoas aproximam-se, criam laços, trocam um pouco da sua energia com os outros, e assim crescemos, melhoramos, desenvolvemo-nos.
Ténue é a linha que separa o ódio do amor, pois quando gostamos tanto de alguém, qualquer coisa que nos façam é amplificada desmesuradamente, galvaniza inúmeras reacções inesperadas, dá azo a extrapolações estranhas e sombrias. Reza o provérbio chinês: "Quem tem alfinetes, pica-se!", e de facto picamo-nos. Uns mais, outros menos, todos com diferentes maneiras de o demonstrar (ou não) de acordo com a sua personalidade, valores e inteligência, quer intelectual (perdoem-me o pleonasmo), quer emocional.
Aqueles que nos são mais próximos exercem normalmente sobre nós uma maior influência. A ambiguidade entra aqui em cena, pois se é certo que os que nos são mais próximos nos conhecem melhor, pelo que estão teoricamente dotados de suficiente idoneidade para nos compreenderem, quando não o fazem, magoam-nos muito mais do que qualquer outro.
Pessoalmente, dou muita importãncia às coisas pequenas: ao brilhozinho nos olhos, aos vincos no nariz aquando do riso; à mechinha de cabelo que descai sobre o rosto, à perspicácia em relação ao qua vai no âmago dos outros; às covinhas nas costas; ao pedir do livro de reclamações quando não há gelo; ao aproveitamento espontâneo de toda e qualquer possibilidade de formular piadas; ao queimar da faculdade; à (des)inspiração, àquela cara; ao coçar do narizinho quando se está concentrado; à capacidade de insurgimento perante a ideia pessoal de injustiça, mesmo quando estamos contra todos; ao constante remexer da tampinha do retroprojector; aos exmplos descabidos da vida quotidiana...
Essas coisas tão pequenas cativam-me, nem que não seja porque normalmente os seus "donos" não as reconhecem. Sempre dei muito valor ao que é natural e genuíno, e quando revelamos estes pequenos tiques, estamos a ser o mais verdadeiros possíveis. Tão verdadeiros, que nem nos apercebemos do que está a acontecer e precisamos que outros nos apontem essas características.
Prolifera por aí a "crise dos 20". "Já vivi 20 anos! 1/4 da minha vida...". E então? Acham que não fizeram grande coisa nesses anos? Acham que foram desaproveitados? Não têm grandes recordações? Não fomentaram a paz e igualdade entre nações de diferentes culturas e ideologias? Não curaram o cancro? Não acabarm com a fome? Será que não tocaram a vida de imensas pessoas só porque são como são? Será que não vão lembrar com saudosismo esses 20 anos durante os restantes 3/4 da vossa vida? Será que não criaram as bases onde alicerçar todo o vosso comportamento para o resto da vida? Foi assim tão pouco???
Quando os que assumivelmente nos são mais próximos, mostram saber tão pouco a nosso respeito, talvez aí a crise se justifique. As pessoas são como são: com qualidades e defeitos. Urge que cada um de nós pese os prós e contras, qualidades e defeitos dos outros e decida se vale a pena, ou não. Quando os outros nos "pesam" a nós, sentimo-nos abalados, sacudidos, não perturbados, mas com perturbações.
Quando um tem os seus critérios, a sua medida para os outros. Há quem valorize as coisas que fazem por nós, há quem valorize coisas mais pequenas. Todos gostamos de nos sentir apreciados, todos gostamos de sentir justiça e equidade. Infelizmente, cada um tem os seus critérios, e mais importante do que a justiça per si, é a percepção da justiça que importa. Desde que nos sintamos "justiçados" está tudo bem. Mas será isso justo para os outros?
Quando presumimos, pressionamos, lançamos ameaças e ultimatos, assumimos uma posição perante outros. Uma posição forte, corajosa, admirável pelo seu cariz de cisão. No entanto, há quem não goste de se sentir pressionado, ameaçado, "ultimatado", apesar de gostar de caldo verde.
As pessoas são como são: com qualidades e defeitos. Urge que cada um de nós pese os prós e contras, qualidades e defeitos dos outros e decida se vale a pena, ou não. Quando os outros nos "pesam" a nós, sentimo-nos abalados, sacudidos, não perturbados, mas com perturbações.

5 comentários:

Tigas disse...

Uma clara tentativa, aliás conseguida, de subir o nível.
Note-se como esta "subida" é passível de interpretações várias: não o é só pelos vocábulos recambulescos presentes ao longo do texto, como o é apenas pela sua ideia, pelas homenagens, pelas ciscunstâncias, pelas "esperanças".

Anónimo disse...

Ningém é perfeito..mas também..quem quer ser ninguém?
É a primeira vez que me apanham a comentar um post.Prefiro falar com a própria pessoa.Irrita-me escrever sem saber quem vai ser o receptor da minha msg.Mas desta vez é diferente.Não sei o que tenho para dizer, mas sei k tenho de dizer alguma coisa aqui e agora.Por algum motivo este texto marcou-me mais k todos os outros. Incomoda-me que as pessoas sejam tão pouco tolerantes umas com as outras.Incomoda-me as injustiças.Incomoda-me q exijam mais do que podem dar.Interessa que cada um caminhe para a excelência, que dê o seu melhor, e isso devia chegar. E que tal...sermos flexíveis, aprendermos a viver com as pessoas como elas são em vez de tentarmos espelhar nos outros a perfeição que gostavamos de ver em nós?
Olhar uma pessoa enquanto dorme é sentir o que mais verdadeiro ela tem para dar. Perdem-se as manias, o verniz estala e só fica a pura realidade, a transparência, a sinceridade que sabe-se lá pq, muitos tentam esconder...
PS-Adorei o post ;) só espero que tanta inspiração tenha vindo de uma certa e determinada conversa imaginária!=P

Anónimo disse...

PS2-Olhei agora para o relógio e..assustei-me!!Tenho tanto que fazer!Depois disto o minímo era vires limpar a casa por mim..Aliás..como terapeuta só te ficava é bem!Dar descanço à vitima da tua terapia (achei que chamar-me paciente já era abusar;)para ter animo pa fazer outras coisas..tipo..ESTUDAR!kisses

hcg disse...

Só interessa "pesar" para ser "pesado" (sim, somos uns cabrões duns egoístas). Quem nunca é ultimado fica com a ideia de que é perfeito. Esse é o pior erro em que se pode cair. Tou-me a cagar se a pessoa gosta ou não, só me interessa o que a pessoa precisa (ou pelo menos o que eu acho que precisa). Estando sujeito a críticas pelo parentises anterior (e ainda bem porque senão não aprendo nada!!) só acho que é uma pena os comments deste post terem palavras como cabrões, cagar, foda-se, merda e afins, que voltam a restituir o nível inicial em termos de vocabulário. Mas como me estou a cagar mágnificamente também para isso, fico-me por uma palavra: "better".Quanto à crise dos 20 anos, tou a ficar velho... (conclusão óbvia, não é? Não há mais nada a dizer)

Anónimo disse...

poças.. tá uma beca grande, e despois com todo ece vucabulario deferente e complicado, axei melhor nem passar do 1º paragrafo... era boa ideia se, da prochima ves, separaçes por capitulos, acim naum dava tanto travalho a ler.