quinta-feira, outubro 27, 2005

A arte do insulto

Considero-me uma pessoa com muita experiência nesta nobre arte do insulto. Todos os dias, desde há muito anos, fui insultado por outrém ou mesmo por mim próprio (à falta de alguém melhor para o fazer...). Tenho estado, portanto, atento à evolução do insulto. E é por isso que com muito pesar tenho que admitir que a qualidade dos insultos tem vindo a diminuir de uma forma bastante alarmante.
Antigamente, no meu tempo, qualquer pessoa era insultada com requintes elegantes de malvadez. Peguemos num exemplo: “A tua existência faz-me questionar o sentido da vida”; “Porquê?”; “Porque vives no mesmo mundo que o meu”; “Tens algum problema com isso?”; “Sim, a tua respiração incomoda-me”. Actualmente, se o insultado utilizasse as mesmas falas teríamos qualquer coisa do estilo: “Tu és mesmo um ganda boi!”; “Porquê?”; “Porque tens um belo par de cornos!”; “Tens algum problema com isso?”; “Errrrrrr, não gosto de te ouvir a fazer muu?”. Muitas vezes o último insulto não se chega a verificar. O insultado, completamente desarmado pela falta de imaginação limita-se a afastar-se ocultando lágrimas ou a impedir que esta conversa continue, mudando subitamente de assunto ou gritando histéricamente “lálálálá...”. Pois é. Chegámos ao ponto em que o insultado insulta o insultador.
Uma prova de que se está em crise reside no facto de existirem serviços que enviam insultos por SMS (para quem tem TV Cabo, o anúncio aparece na Sic Radical). E o que é pior é que os insultos destinam-se à mãe do insultado e não ao próprio (“a tua mãe é tão feia que quando vai ao banco desligam as câmaras de vigilância”). Quando algum insultador chega ao ponto de ter que se focar em algum membro da família do insultado, então é porque deveras chegou ao desespero. Certamente até a mulher mais boa do mundo inteiro terá algum traço característico na cara que possibilite um insulto de meia hora (para quem não sabe, a cara é aquilo que está acima das mamas). Então porquê insultar a mãe? Pessoalmente, o único insulto que faria envolvendo a mãe do insultado seria: “Tu és o pior erro da tua mãe e olha que ela foi prostituta durante 5 anos. Por falar nisso, já encontraste o teu pai?”. Mas aí surge outro problema.
Os insultados actuais já nem tem capacidade para compreender um insulto que envolva mais do que quatro palavras. Simplesmente ficam em silêncio, não por desprezo, mas sim porque são estúpidos que nem uma porta. É preciso, por isso, utilizar gestos para completar o insulto por forma a que todos o compreendam. Um exemplo seria: “Tapa-me esse cu!” enquanto o insultador aponta com o indicador da mão direita para a cara do insultado. 3 palavras, 1 gesto e mesmo assim suficiente.
Por sua vez, o insultado poderá aplicar uma resposta-tipo que anula a força do insulto. Foram muitos os génios que desenvolveram esse tipo de resposta mas hoje em dia só alguns ainda estão no activo. Temos, a título de exemplo, o “Ou não”, desenvolvido por um grão-mestre que lecciona actualmente no ISCTE. A um nível superior, o insultado nem tem que responder ao insulto: pode limitar-se a demonstrar o seu desprezo pelo insultador e ignorar a sua existência. A técnica do silêncio, quando bem aplicada, é, sem sombra de dúvidas, a mais devastadora nesta arte do insulto.
Por todas estas razões, é inovidável a necessidade de uma maior atenção a esta arte. Convém não esquecer que, à medida que me vou tornando num melhor insultador, o Apocalipse aproxima-se a passos largos do presente. Mas a chama da esperança ainda arde no Técnico! Guiai estas crianças que elas não sabem o que dizem! Salvai-nos desta miséria insultuosa! Insultai!!

4 comentários:

Inex disse...

ó henrique! não seja por isso! eu nunca tive muita queda para a arte de bem insultar mas tentarei melhora-la se me deres umas dicas melhor..

JP disse...

ó Palonço... tu és uma bosta de insultador!dsc q t diga isto, mas até a pessoa com menos gosto por si própria ficaria de ego em alto, saltaria e pularia que nem uma borboleta por tu lhe dirigires um dos teus insultos!
Ai para onde este mundo vai...

P.S.- Nem o uso da palavra "inovidável", cujo significado certamente desconheces, apaga o desastroso atentado que foi teres escrito, logo na segunda linha, um "à" onde devia estar um "há"!

Jtcs disse...

Além disso, o insulto “Tapa-me esse cu!” tem menos de 4 palavras, pelo que o uso do gesto não se justifica!!! Lol

Tigas disse...

Fdx... Lacrimejo de alegria por ver que tu até tens qualquer coisinha aí dentro Henrique. Que afinal não és oco, como uma das teorias da evolução, formulada por mim próprio, com alguns laivos maria-inesisticos e jotianos anteriormente advogava.
Vês? Quando se poem vírgulas nos sítios adequados, acentos nas letras próprias e se usam palavras cujo significado se conhece até saem coisas bonitas, embora altamente estupidificantes.
E tens razão no que dizes: o insulto já não é o que era, mas a mim quem me tira um "Tua mãe!!" tira-me tudo.