quarta-feira, julho 18, 2007

Novos ventos

Novos ventos do futuro se esperam,
consumidos que estão os do passado e presente.
Mas enquanto não chegam os novos,
e os de agora e de antes não nos satisfazem,
meios alternativos é preciso encontrar para sobreviver.
Rebater uma e outra vez no mesmo
ensandece-nos progressivamente,
mesmo encontrando novas formas de ver coisas velhas.
Rebater uma e outra vez no mesmo
consome-nos a energia pausadamente,
não nos deixando ver que o caminho é para a frente.

Como acalmar pensamentos angustiantes
se não aceitámos ainda que a angústia vai passar?
Mói-se,
procura-se,
num indagar quase constante
com breves interlúdios de coisas ainda vindouras.
Mas e agora,
no presente,
como sabemos de onde ele sopra?
É feito de inúmeros passados,
constrói aos bocados o futuro.

O que passou lembramo-nos,
o que virá imaginamos,
o agora vivemos
ligando ambos um ao outro.

Invejas, remorsos, penas, saudades.
Desejos, anseios, lágrimas, piedade.
O querer tem mais força que o saber,
o suspiro mais dedicação que o andar para a frente.

Paixão e amizade confluem numa mescla inconstante e incontrolável
que nos faz correr pela praia sem parar,
que nos faz adormecer na praia ao luar.

Sorrimos ao mundo porque fica bem,
por dentro arranhamo-nos a nós próprios num vil acto de repúdio
por nós,
pelos outros,
por tudo.

Como esquecer, como deixar,
como por cima desta coisa passar
que não se pode definir,
que não se vê nem se sabe até se sentir,
que se sabe que há-de passar mas que dói mais
do que qualquer lição antes aprendida?

Parar não é opção, andar para a frente só aos poucos.
Costumam dizer que quando menos se espera
é quando passa,
é quando sopra o novo vento,
não o da mudança,
porque esse ao que parece não é vento,
é brisa leve que não se sente,
que só se deixa ver por recordações,
nunca por sensações presentes.

Lá fora as árvores abanam,
os papéis voam
e os sacos dançam.
Os remoinhos levantam o pó tornando-o visível:
está sempre lá, mas normalmente não o vemos,
não lhe damos importância.

O vento não se vê, mas às vezes sente-se.
Está sempre por aí, mas nem sempre se mostra.

Donde vem não se sabe,
quando aparece, só previsões.

Quando menos se espera
é quando passa,
quando sopra o novo vento,
não o da mudança,
porque esse não é vento,
é brisa leve que não se sente,
que só se sabe por recordações,

nunca por sensações presentes.

6 comentários:

hcg disse...

Como estou mentalmente alterado, não consigo propiamente comentar o poema. Mas desde já digo: qualquer poema que tenha praia escrito, merece que as palmas das minhas mãos se unam de forma rápida e somente durante 1 segundo uma e somente uma vez. Se não tivesse sido incluído o correr no mesmo verso (a não ser que fosse para a água), merecerias a repetição do acto anterior. Em relação à mescla, de facto é uma palavra inovadora, mas o facto de eu ser estupido e não compreender o seu significado leva-me a somente aceitar que meia palma seja unida da forma referida.

Tigas disse...

Mescla significa mistura. É claro que tu já sabias disso, mas assim sinto-me mais inteligente e tudo...

hcg disse...

Sinto-me ofendido com o facto de achares que sou esperto! Quer dizer, basta esta frase para se compreender o grau da minha estupidez. Convém não esquecer o título atingido por mim outrora de "ser mais estúpido". Respeito! Exijo um insulto de nível apelando à minha estupidez!

Tigas disse...

A tua estupidez é como uma caixa de sortidos da Cuetara: "Nunca se sabe o que se vai encontrar".

Ora, isto é bastante estúpido, por várias razões:

1) Não sei se é assim que se escreve "Cuetara";

2) É uma alegoria ao filme "Forrest Gump", onde a personagem principal não era propriamente inteligente;

3) Só um estúpido se identifica com a situação - um inteligente lê o panfleto antes de desembrulhar o papelinho e fica a saber o que vai encontrar;

4) A prática de enumerar coisas (nomeadamente 3) foi tornada célebre por Paulo Portas, que é efectivamente estúpido;

5) Ao enumerar o ponto 4) deixaram de ser 3, destruindo as parecenças com Paulo Portas e consequentemente o meu próprio argumento, o que é estúpido.

Espero ter-te prestado justa homenagem.

Quem ler isto e não achar estúpido, não se incomode, eu só sou o "mais parvo", título atribuído pela mesma altura do teu.

hcg disse...

Mas és também um jovem aprendiz da estupidez. May the Force be with you... If not, take a Kompensan or that pill that is advertised in the TV: "para o alívio rápido da diarreia". It helps.

Bruno disse...

engraçado, um ano depois, a mesma Lisboa, outras personagens.

Espero, que tejam onde tiverem, os ventos continuem bons.

Um abraço