quinta-feira, agosto 24, 2006

Caminhadas

"Determinadas coisas significam determinadas coisas". Uma frase aparentemente pleonástica, eventualmente circunloquiar, mas com muito que se lhe diga...
Qualquer coisa tem uma função, mesmo que seja inútil. Essa função é habitualmente do conhecimento geral, apesar de algumas mentes iluminadas descortinarem nas coisas mais banais funções alternativas, à primeira vista eventualmente ridículas, condenadas a permanecer no quase anonimato. Contudo, muito mais interessante é debruçarmo-nos sobre o simbolismo dessas coisas. Aqui, muito pouca coisa é determinada, ou pelo menos muito pouca coisa é fechada. Um pedaço de casca de árvore é aparentemente inútil, mas é para mim uma recordação de infância, um suspiro alegre, um saudosismo profundo. A função, dirão alguns, é recordar. A finalidade, digo eu, é carregar baterias. Quando revivo esta recordação, crio uma cadeia de valor: através da recordação, passo da casca de árvore à obtenção de energia, energia essa contida na casca de árvore, que activada pela minha recordação, se transfere para mim, passa ao estado gasoso, é expelida pela minha boca e nariz, por acção dos meus pulmões, sob a forma de suspiro e se espalha por aí. No universo nada se perde, tudo se transforma.

No fundo tudo o que fiz foi caminhar. Desloquei-me de um ponto A para um ponto B e nesse sentido caminhei. Não me desloquei fisicamente, embora tenha causado deslocções ao nível do físico, mas simbolicamente caminhei.

Caminhar é decerto útil e tem para mim várias finalidades. Caminhei recentemente da Avenida de Roma atá à Amadora. No passado tinha já caminhado da Sé de Lisboa até à Amadora, do Campus de Campolide até à Amadora. A utilidade esteve lá, as finalidades também, a cadeia de valor imensa. Espero caminhar mais no futuro, cada vez com mais energia...
A vós que como eu caminhais por uma metrópole de pensamentos, deixo uma sugestão: não se preocupem para onde vão; pensem antes por onde que chegam lá na mesma.

1 comentário:

JP disse...

Quando caminhar não é só andar a pé, quando caminhar não é só notar que os pés doem ao chegar a casa, duas ou três horas depois de arrancar, quando caminhar não é só sentir o sabor fresco da noite, é porque o que fizeste foi mais do que te deslocares de um ponto A para um ponto B. O que fizeste foi partilhar um pouco de ti com os que contigo andaram contigo, nem que seja o tempo que lhes deste. O que falaram a noite guarda para si, o que deste tu guardas para ti. E no fim os pés não doem tanto assim, porque há algo de uma força maior que te faz esquecer isso, algo que te faz perceber que determinadas coisas significam determinadas coisas...