sábado, maio 20, 2006

Há já muito tempo que tenho andado a matutar num post sobre religião e a recente polémica sobre a obra de Dan Brown O CÓDIGO DA VINCI foi a gota de água. Mais uma vez a Igreja mostra a sua faceta obscura ao tentar reprimir qualquer tipo de ideia que seja contrária à sua. Parece que temos agora uma Inquisição psicológica, em que alguém com ideias diferentes e meios suficientes para causar um impacto significativo na sociedade deve ser reprimido, difamado, desacreditado...
A religião é uma doutrina, um sistema religioso, um culto prestado à divindade. É uma força instaurada desde sempre, desde que os homo erectus ou sei lá quais é que foram os primeiros, começaram a fazer vénias a calhaus e a dançar para que chovesse e houvesse muitos animais para se matar e comer. O Homem sempre teve necessidade de apoiar a base da sua existência em algo, e como até agora ainda ninguém encontrou a solução "milagrosa" muitos advogam a fé. Essa fé é passível de interpretações várias, pois tanto pode ser uma crença religiosa, como uma convicção em alguém ou nalguma coisa. Do ponto de vista católico, que é o que me interessa agora abordar, ter fé é acreditar naquilo que não pode ser explicado. É por isso que quando alguém morre se diz que foi a vontade de Deus e quando as coisas correm bem se diz "Graças a Deus.". Aquilo que não pode ser explicado é classificado como sendo obra de uma entidade superior, omnipotente, omnipresente, omnisciente - uma das ideias mais fortes alguma vez criadas e que já tanto sangue derramou ao longo da nossa história.
Não me faz confusão nenhuma que as pessoas tenham fé, embora a teologia seja para mim profundamente intrigante. Mas ter fé, é exactamente isso, acreditar no que não pode ser explicado.
O que me faz mais confusão não é a religião, mas a Igreja. Para mim, devemos ter fé porque o sentimos, porque algo no nosso âmago emana uma força que nos faz crer, que nos ajuda nos momentos difíceis, que nos justifica o que não compreendemos. Isso é ter fé. Não porque nos ensinaram a acreditar, mas porque acreditamos. Não porque nos disseram que foi, mas porque acreditamos que foi. Não porque nos dizem o que um livro quer dizer, mas porque lemos o livro e acreditamos naquilo que o livro nos "disse".
Quando escrevo um texto, muitas vezes me vêm dizer o que eu queria dizer naquela parte em que disse não sei o quê. Muitas vezes acertam, outras não, outras ainda descortinam significados que eu nunca quis dar a certas palavras ou frases. Por isso sempre me fez confusão quando nas aulas de Português, não nos ensinam a escrever, mas nos ensinam História dos Autores Portugueses, leccionada por professores que a aprenderam, que foi ensinada por um senhor muito inteligente, que como leu muito se tornou omnisciente, e como estudou a vida do autor sabe o que ele queria dizer quando usou a metáfora X, a anáfora Y, a hipérbole Z. Actualmente a Igreja tornou-se esse senhor. Como estudam há imensos anos tudo o que aconteceu, sabem tudo e quem pensar de forma diferente está errado. É por isso que para mim a Igreja é contra-natura. Querem incutir nas pessoas a fé, de forma extrínseca, quando ela deveria surgir do interior de cada um, naturalmente.
Não sou contra a religião, nem contra a Igreja como edifício, mas sou contra a religião e a Igreja enquanto instrumentos dos homens, que visam controlar e encaminhar os pobres coitados que ainda não foram iluminados pela luz suprema que só pode vir de cima.
Há quem tenha fé na família, nos amigos, em si próprio. Há quem não precise de ser ensinado, pois gosta de aprender por si próprio. Cada um deve ter o direito de escolher o seu caminho, de escolher as suas crenças, de escolher a sua fé. Se quem vir O CÓDIGO DA VINCI for perguntar ao porteiro da suposta sede da OPUS DEI onde é que mora o Silas, é livre de o fazer e de acreditar no que quiser. A Igreja não deveria encarar essas pessoas com receio, mas antes congratular-se com a sua existência, pois esse é um alvo fácil do aparelho da Igreja, e rapidamente o fazem esquecer a Maria Madalena e seja lá o que for que não lhes interessa em que as pessoas acreditem.
Ter fé, é uma escolha de cada um, assim como o objecto para o qual essa fé é direccionado. Não é um livro que vai acabar com o catolicismo, mas se querem fazer dele algo fechado, controlador e manipulador, talvez precisem de reler as palavras do Senhor e pensar um pouco por vocês mesmos.

2 comentários:

Anónimo disse...

este tema tem pano pa mangas! era difícil fazer um comentário com tudo o que eu gostava de dizer.
Apesar de concordar com a ideia de que nao precisamos de intermediários, se há quem ache isso...nao vejo nenhum problema.
A igreja tem um peso mt grande na sociedade e os valores que incute (ainda que n mt actualizados) são correctos. Acho que faz falta olhar um bocado mais para o lado positivo da religião, e da igreja. Fica o desafio ;)

Anónimo disse...

Começar a falar de igreja e religião pelo Código de Da Vinci é como começar a falar da sociedade portuguesa e dos seus costumes pegando na Margarida Rebelo Pinto... não tem nada a ver, mas vende que se farta!

Quanto ao resto, os esteriotipozinhos são lixados... deixam tanta coisa de fora!