Olho desconcertadamente para o banco de trás. Será que eu quero ir para ali? A experiência ensinou-me a evitar sítios apertados com animais ciosos. “Não há razão para temer” juram-me a pés juntos. Arrisco e entro. Ralmente a selvajaria está sob controlo. Esforço-me por tentar demonstrar que até tenho uma opinião futebolística mas acabo por ficar com um black out mental de 15 minutos nos quais salivo descontroladamente (mas ao menos sei o que é um penalty!). Nos bancos da frente fala-se da estrada. “Vira para a direita”. O carro vira para a esquerda. “Faz a rotunda pela direita”. O carro faz marcha atrás. Sinto-me a aproximar do Parque das Nações pelo que apreensivamente faço uma sugestão: “Segue a estrada”. Ignoram-me. Cai um silêncio brutal. Só se houve o rugido do motor que, “ligeiramente” em esforço, pede o alívio da maneta.
Após uma pequena oração pelas 5 crianças, 1 trisómico, 2 idosos e 1 macaco que foram atropelados nas diversas passadeiras do nosso caminho, relembram-se os locais por onde passámos, apontando-se ocasionalmente dedos para dizer: “Toma lá! Eu é que tinha razão!” Alguém do banco de trás enuncia a filosofia de vida do Carpe Diem. Ignoram-no. O carro muda de direcção para a esquerda (após uma sugestão de virar à direita) e finalmente concluímos que deviamos ter seguido em frente.
Paramos em frente de uma cancela, onde alguém tenta comunicar connosco utilizando uma língua desconhecida, rebentamos com 1/10 da floresta amazónica e saimos do carro rumo às festividades aniversariantes.
Vejo-me de novo no banco de trás. Vitórias aparte, ainda estou atormentado com a imagem de uma criança a voar pela sala após lhe terem sido aplicados 3 Masters locks, 1 Batista bomb e 6 pedigrees. Noto que nasceu mais um passageiro, que ocupa o lugar da frente e compreendo quais são as consequências. Já nenhuma grade me separa do animal pelo que vejo-me obrigado a proteger a minha pessoa com uma almofada de uma sodomização à bruta e ligeiramente forçada. Alguém fala comigo. Aparentemente andam-me a sugar a vida pelos joelhos sem que eu note. Pondero na melhor forma de responder a esta ameaça. Poderia, graças à minha enorme flexibilidade, restituír a minha vida através da incorporação do meu pé direito na testa do rapinador. Mas a testa está ligeiramente suada pelo que seria pouco higiénico. Resolvo antes contar uma história. Não só sou ignorado como também eu próprio sou sugado para o vórtice da ignorância, perdendo qualquer interesse, até no que digo. Alguém reconta a história. Ignoro. Sinto que passámos uma ponte. Tento visualizar-me em Albufeira mas sou rudemente interrompido por uma mão que sorrateiramente aproxima-se da minha perna. Protejo-me com a almofada. Alguém conta uma anedota. Ignoro.
Chegamos ao nosso destino. Vejo que não existe um excesso de veículos nem rotundas parvas pelo que fico agradado com o que vejo. Alguém me diz que estamos em Marrocos mas eu discordo. Acho que estamos em Praga. O passageiro salta e o casal reúne-se. Toda a sanidade esvaí-se do carro. No banco de trás fala-se do sado-masoquismo praguense e de comida. Nos bancos da frente fala-se da estrada. Alguém fala comigo. Ignoro. Falo com alguém. Ignoram-me. Começo a pensar nas vantagens e desvantagens da cera do ouvido.
Nos bancos da frente a conversa evoluí. Fala-se do núcleo parental de outrém com especial interesse no poder maternal, sendo o tópico incorporado na discussão sobre a estrada. Digo qualquer coisa. Ignoram-me. Alguém diz para se falar seriamente. Falamos do espancamento infantil como forma de entretenimento das massas num futuro próximo. Chego ao fim da linha. Enquanto saio do carro dizem-me qualquer coisa. Ignoro mas respondo qualquer coisa. Sou ignorado e vou dormir.
P.S. – Uma vez que não sei se incluí os erros necessários para ter um comment original, resolvi acrescentar uma pequena frase gramaticalmente incorrecta: “Oje á muta jente ke na tiem nadas ke fazeres”. Agradeço que incluam, para além da correcção, uma explicação teleológica sobre os acentos ortográficos. Considerem este aparte incluído no pensamento de aulas.
Após uma pequena oração pelas 5 crianças, 1 trisómico, 2 idosos e 1 macaco que foram atropelados nas diversas passadeiras do nosso caminho, relembram-se os locais por onde passámos, apontando-se ocasionalmente dedos para dizer: “Toma lá! Eu é que tinha razão!” Alguém do banco de trás enuncia a filosofia de vida do Carpe Diem. Ignoram-no. O carro muda de direcção para a esquerda (após uma sugestão de virar à direita) e finalmente concluímos que deviamos ter seguido em frente.
Paramos em frente de uma cancela, onde alguém tenta comunicar connosco utilizando uma língua desconhecida, rebentamos com 1/10 da floresta amazónica e saimos do carro rumo às festividades aniversariantes.
Vejo-me de novo no banco de trás. Vitórias aparte, ainda estou atormentado com a imagem de uma criança a voar pela sala após lhe terem sido aplicados 3 Masters locks, 1 Batista bomb e 6 pedigrees. Noto que nasceu mais um passageiro, que ocupa o lugar da frente e compreendo quais são as consequências. Já nenhuma grade me separa do animal pelo que vejo-me obrigado a proteger a minha pessoa com uma almofada de uma sodomização à bruta e ligeiramente forçada. Alguém fala comigo. Aparentemente andam-me a sugar a vida pelos joelhos sem que eu note. Pondero na melhor forma de responder a esta ameaça. Poderia, graças à minha enorme flexibilidade, restituír a minha vida através da incorporação do meu pé direito na testa do rapinador. Mas a testa está ligeiramente suada pelo que seria pouco higiénico. Resolvo antes contar uma história. Não só sou ignorado como também eu próprio sou sugado para o vórtice da ignorância, perdendo qualquer interesse, até no que digo. Alguém reconta a história. Ignoro. Sinto que passámos uma ponte. Tento visualizar-me em Albufeira mas sou rudemente interrompido por uma mão que sorrateiramente aproxima-se da minha perna. Protejo-me com a almofada. Alguém conta uma anedota. Ignoro.
Chegamos ao nosso destino. Vejo que não existe um excesso de veículos nem rotundas parvas pelo que fico agradado com o que vejo. Alguém me diz que estamos em Marrocos mas eu discordo. Acho que estamos em Praga. O passageiro salta e o casal reúne-se. Toda a sanidade esvaí-se do carro. No banco de trás fala-se do sado-masoquismo praguense e de comida. Nos bancos da frente fala-se da estrada. Alguém fala comigo. Ignoro. Falo com alguém. Ignoram-me. Começo a pensar nas vantagens e desvantagens da cera do ouvido.
Nos bancos da frente a conversa evoluí. Fala-se do núcleo parental de outrém com especial interesse no poder maternal, sendo o tópico incorporado na discussão sobre a estrada. Digo qualquer coisa. Ignoram-me. Alguém diz para se falar seriamente. Falamos do espancamento infantil como forma de entretenimento das massas num futuro próximo. Chego ao fim da linha. Enquanto saio do carro dizem-me qualquer coisa. Ignoro mas respondo qualquer coisa. Sou ignorado e vou dormir.
P.S. – Uma vez que não sei se incluí os erros necessários para ter um comment original, resolvi acrescentar uma pequena frase gramaticalmente incorrecta: “Oje á muta jente ke na tiem nadas ke fazeres”. Agradeço que incluam, para além da correcção, uma explicação teleológica sobre os acentos ortográficos. Considerem este aparte incluído no pensamento de aulas.
2 comentários:
aqui vai o comment original: do ponto de vista da psicanálise o teu aparte mostra o que se chama de resistencia á alteridade da linguagem e é consequencia de um recalcamento causado pelo conflito entre uma moção pulsional que força o seu acesso á consciencia e uma contracarga mobilizada pela censura para interditar este movimento.
Agora a minha opinião sobre o post: gostei, apesar de não ter percebido nada é claro,
AMEI Palonço!!! Bem-vindo ao Lisboa e os Amigos!
P.S- Para a próxima vais a pé que é para não dizeres que o carro se queixa!!! Nunca pensaste que se calhar era um aviso de sobrecarga???
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